sexta-feira, 25 de julho de 2008

Perspectivas

Incrível a diferença que duas semanas fazem. Naquele caso, toda a diferença. O que o tempo e um pouco de perspectiva não realizam, não? Alguns dias fora do olho do furacão o levantaram. Afinal, não era culpa dele. Tinha feito todo seu melhor. Mostrado tudo que tinha de bom. COisa que modéstia à parte, não era de se jogar fora. Aliás, nem um pouco (não nos delonguemos nas qualidades).
Se havia sido descartado, pensou, não era por sua culpa. Culpa do timing, perhaps? Muito provavelmente. Ou o santo não bateu tanto como ele inicialmente havia pensado.
Anyway, ainda havia a possibilidade dele não ter sido cogitado desde o início, claro que havia. Por mais que fosse odiosa a idéia, não podia deixar de considerá-la. Afinal, seres humanos são fracos e capazes de às vezes (sempre) realizarem mesquinharias. E quando as mesquinharias se referem a outros humanos, ah como somos capazes... Porém, sem ressentimentos. Entendia muito bem. Se para a outra pessoa ele não havia significado o mesmo tanto, havia duas alternativas de pensamento: A) Azar da pessoa. B) Pelo menos um dos dois achou isso. Em seus áureos tempos optaria pela A, todavia agora estava realmente indeciso.
Claro que a perspectiva o ajudou. Viu que eram problemas de uma pequenez tão extrema que era de um extremo egoísmo deixar sua vida ser consumida por tais coisas. Viu seu tamanho, comparou-o ao mundo e notou que ele, grão, se misturava à areia da praia.
Antes de dormir, pensou ainda nela, em uma talvez vâ esperança, porém destituída de qualquer mágoa. Não, nada estragaria o que tinha acontecido, pelo menos pra ele. E ele sabia que dentro, bem lá dentro, por mais que fora as coisas mudassem, ninguém poderia mudar o que ele sentia.
Feliz, fechou os olhos.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Infinito Enquanto Dure? / Grandes Esperanças

Cinco horas da manhã. Telefone toca. Ele já sabe quem é antes de atender Havia ficado acordado com a antecipação daquele momento.

Atende, feliz de ouvir aquela voz. Espera boas notícias.

Não as recebe. Não? Não!

Dois minutos depois, alquebrado, desliga o telefone. Cabeça atordoada com o soco psicológico à la Mike Tyson que acabou de levar. Era isso que ele tinha esperado tanto. QUe ele por mais que algumas coisas indicassem cautela tinha tanto certeza sobre?

É, preguei mais uma peça em você, disse a Vida. Repassou em sua cabeça todos os fatos dos últimos meses, tentando entender onde tinha errado. Pensou nos conselhos não seguidos, nas coisas impetuosas feitas. Nada indicava algum erro muito crasso. Talvez as Grandes Esperanças o tivessem traído.

E como Pip no grande livro de Dickens, ele não acabaria com a garota. Novamente, again. de nouveau. Se achava amaldiçoado, azarado. Claro que não era bem assim, porém quem é ponderado nessas horas.

Ele gostaria de pensar como Vinícius, ah como gostaria. Mas acho que nem Vinicius pensava como Vinícius. Quem pensaria como aquele poetinha bêbado, impossível imaginar.

Mais uma vez as grandes esperanças ruíam. Sempre há o amanhã, diziam todos.

Sim, há. Muito mais amargo, completava ele, em vis pensamentos.

domingo, 13 de julho de 2008

Esperando na Janela

Posso dizer que sempre fui um homem de ação. Não em toooodas as horas, claro. Muitas vezes a inércia acaba nos capturando e não fazemos o que deveríamos fazer. Mas digressiono. Só para citar um exemplo de como odeio esperar, eu prefiro mil vezes passar 30 minutos andando a esperar uma carona que vai demorar 15 pra chegar. Simplesmente a espera não está em mim, odeio.

E é incrível como tantas vezes na vida, por mais que façamos todo o possível e o impossível, temos que esperar. Uma coisa que foge ao nosso controle. Me chame de control-freak porém depender de outros seres humanos beira à loucura.

Mas agora imagine só, quantas coisas depois de fazermos todo o possível, esperamos decisões de outros. No vestibular, numa entrevista de emprego, numa falta que você fez (ou não, maldito árbitro).

O pior mesmo na espera é o fato de ser algo completamente alheio ao seu controle. Por mais que você ligue a pessoa vai chegar no horário que lhe aprouver; por mais que você seja sedutor/convincente aquela menina só vai ligar se quiser.

Talvez seja um pouco de fatalismo da minha parte pensar assim. Todavia, nunca vi alguém que goste de não ser o dono da situação.

No fundo somos todos compradores de bilhetes de loteria. E não tô vendo ninguém ganhar.

domingo, 11 de maio de 2008

E agora, José?

Era de se notar que acabara de acordar, cara amassada, cabelo desgrenhado. Ainda sentia bem os efeitos do álcool, principalmente pela cabeça latejante. Ao seu lado ainda dorme a companheira de longa data. Não contínua, fato que eles preferem não alardear mas os mais próximos sabem.
O motivo da ressaca era especial, não havia sido apenas uma típica saída de sábado à noite. Havia voltado do seu baile de formatura. Seis anos depois (era pra terem sido cinco mas sabe Cálculo II, né?) o fim estava sacramentado. Difícil atinar com o fato.

A maioria de seus amigos voltaria pra suas respectivas cidades, ele também, muito provavelmente. Todos agora não mais acadêmicos/estagiários e sim com uma placa de 'DESEMPREGADO' pendurada no pescoço. Mundo cruel. Claro que não pensara nisso durante a festa apesar de ser um pensamento recorrente nos últimos tempos, todas as vezes sendo intimado a calar-se por seus amigos.
Não. durante a festa realmente não precisou pensar naquilo. Foram tantas emoções (crédito a Roberto Carlos), toda a família reunida, os amigos, alguns vindos de muito longe, o discurso que ele planejara há tanto tempo e que tinha saído fantástico (em sua nada parcial opinião) e por último mas nem um pouco menos importante: o champagne (na verdade o espumante, já que champagne é só o vinho espumante vindo do vale de... hum... vamos falar champagne mesmo, bem mais fácil).
Porém, agora era a hora das escolhas. Depois de quatro anos de idas-e-vindas havia retornado às graças da que dormia ao seu lado. Só que pequeno detalhe, ela não tinha se formado ainda. E só se formaria no final do ano seguinte. Sem mencionar o fato dela também não ser local, nem do mesmo lugar que ele.
Ainda tinha que pensar também na opressão tácita que seria voltar a morar com a família depois de seis longos anos.
Ia ser difícil passar para a rotina da vida brasileira média. Oito às cinco, happy-hour na sexta e praia no feriado. Jura? Tudo isso mesmo? Não apetecia nem um pouco.
Incrível como ele tinha tido tanto tempo pra pensar nestas coisas, pensado nelas e mesmo assim não havia chegado a nenhuma conclusão. Encruzilhada. Momento chave da vida.

Mas obviamente não seria às seis e meia da manhã, mamado que ele resolveria algo. Ainda havia tempo, ah o tão elusivo tempo. Ou pelo menos assim ele pensava.

Virou-se para o rosto angelical deitado, de olhos fechados a seu lado. Esboçou um mínimo sorriso, deu um paternal beijo na testa, virou-se e dormiu.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sobrou Pra Mim

Putz, sobrou pra mim. Foi o que ele pensou. Estava com aquela sensação chata de quem nada de errado havia feito porém sentia que indubitavelmente seria apontado como o errado ou algo similar. Meio que quando todos na sala de aula estão a conversar mas você pressente que na hora da bronca, o escolhido pelo professor será você. Ou quando o time inteiro não joga nada só que você escolheu bem aquele jogo pra furar a bola que interceptaria o contra-ataque mortal.
Mas o que levava nosso protagonista a ficar assim? Vejamos, com as palavras do próprio.

É, legal isso, pensei que só eu sabia desse negócio e agora tá todo mundo sabendo. O pior é que ELA vai achar que fui eu, afinal teoricamente só eu estava presente... mas será mesmo? Talvez alguém tenha visto, ou ela tenha contado pra mais alguém...
O fato é que ela deve estar me culpando mesmo, afinal me trata como lixo depois que a informação correu, independentemente dela ter contado a outra pessoa, quem ficou marcado como falastrão fui eu.

Pensa, pensa. Que farei? Posso tentar malandramente desmentir aos poucos... não, muito óbvio, além de ser praticamente ratificar o ato desmenti-lo. Posso assumir a culpa, alegando que contei pra alguém em sigilo e esse outro alguém que soltou a informação. Boa, agora eu ia arrastar mais um para o buraco, seria muito legal da minha parte. Ou poderia assumir a culpa, mesmo sem ter feito nada. Opa, essa parece até agora a mais razoável em termos conseqüenciais, mesmo sendo a mais ridícula em termos de verdade. Posso negar até a morte veementemente com a espada da verdade ao meu lado. Há, seria estúpido isso mesmo sendo o mais certo.

Ou posso não fazer nada. É, parece razoável. Mesmo que minha vontade irrefreável de mostrar a pra todo mundo que não sou eu o filho-da-mãe. Aliás, que mania idiota essa de querer se justificar, né? Ninguém paga minhas contas, que aliás não estão nem um pouco baratas, maldito carnaval.

Pronto, é isso mesmo, não farei nada.

Mas pensando bem...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Uma Outra Viagem de Ônibus

Lembrando que é pra ler o post de baixo antes desse

****

Outra viagem, mais uma vez vou ficar nervosa. Sempre sento ao lado de tarados e pior, velhos tarados. Parece que atraio, ímã de tarados viajantes.

Vamos ver, vamos ver... 38, 38, cadê você. Ah não, esse daí tem aquela carinha de ser dos que ficam babando no decote.

Senta-se. Nota a empolgação do senhor ao seu lado quando ela relutantemente senta.

- Juro por Deus que a primeira gracinha deste tiozinho eu mudo de lugar, não agüento mais essas viagens com esses babões. - raciocinou ela.

Como se tivesse ouvido o pensamento da garota, o velho, malandramente levantou a barrinha que faz a divisa entre as poltronas.

Foi a gota d'água. De um súbito levantou-se, pegou a bolsa e começou a andar pelo corredor.

Agitada, procurava avidamente algum lugar vago. De repente notou uma poltrona livre, era no corredor. Antes de sentar, olhou para o ocupante da poltrona da janela, seria inútil ter trocado de lugar para sentar com outro tarado.

Talvez a viagem não fosse ser tão ruim assim, pensou a garota. Bonitinho, cabelo meio ensebado mas ela gosta de cabelos grandes, melhor não reclamar muito, comparado com o tiozinho... Ah, eu conheço ele, ele deve fazer administração ou economia, vi ele com os meninos da FEA.

Putz, lembrei. A vaca da Andréa andava com eles sempre, sempre se jogando nele, tomara que eles não tenham ficado, nojo.

Sentou, percebendo que o rapaz meio que se empertigava... é, talvez não tenha sido má idéia o decote, pensou, congratulando-se.

- Meu, tá chovendo de novo. São Paulo vai encher que nem quinta feira, ô cidadezinha, viu? - falou o rapaz.

Ai, que que eu respondo? Não achei que ele já fosse puxar conversa assim, tão cedo.

De modo automático, assentiu com a cabeça, sentindo-se uma débil mental. É sempre assim, toda vez que eu quero ser simpática pareço uma robô. Eu me odeio, profundamente.

- Tá frio, né? Quer que desligue o ar-condicionado?

Ai, Deus. Bonitinho ele puxar conversa mas bem que podia ser com um outro assunto, né? Sei lá o que falar. E novamente, como por um impulso fortíssimo, deixou os gestos falarem por ela.

Putz, ele deve achar que sou muda ou que tenho problema mental. Vou fingir que estou dormindo, um pouquinho, só pra depois eu puxar uma conversa.

Fica imóvel por alguns minutos, pensando já na conversa futura. Um súbito estrondo a faz pular. Sai do seu suposto estado de sono e vira-se, encarando o autor do barulho.

Ele derrubou o celular de propósito, certeeeza. Que bonitinho! E que malandrinho também, insistente.

- Acordei você? Perdão. - Não posso dizer que ele não tem iniciativa. Papinho fraco, mas ele é tão bonito!

- Imagine, eu não tava conseguindo dormir. Você também não consegue dormir em ônibus? - Pronto, uma CONVERSA entre pessoas normais.

- Olha, antigamente eu dormia com muita facilidade só que de uns tempos pra cá, inexplicavelmente, não consigo. Estranho, né? - que conversinha besta essa minha, pensou ele.

- Arrã. - Eu e meus monossílabos, acho que me odeio mais agora.

Vou ter que virar o jogo então, me sinto obrigada. Lá vai:

- Já te vi lá na faculdade, sabia?

- É mesmo? Mas que mal-educada, hein? Nem deu oi. E o que você faz?

Um engraçadinho, então. Gosto de engraçadinhos. Vou falar que faço enfermagem dum jeito bem sexy, homens adoram enfermeiras.

- Enfermagem. Você?

- Economia. Ah, você conhece a Andréa do 3º ano?

Economia, sabia! E conheço sim, essa nojenta, tomara DEUS vocês não tenham ficado.

- Conheço sim - usou a sua voz mais fria. Ele percebeu, tá na cara.

Espertamente, o rapaz se apresenta. E procede a uma conversa simpática, engraçada. Gostei dele pensa a garota. Fala mais que a boca, claro, mas é simpático, educado, e bela boca ele tem, gostei.

- Não, mas aí teve uma vez...

É, tá na hora dele parar com a conversinha mole já.

Ele não parou. A oportunidade escorreu por entre os dedos e ambos foram dormir.

Ela, frustradíssima. Nunca mais deixo esses homens falarem tanto, diabos.

****

Desce do ônibus, vai rapidinho pegar as malas, pra evitar o constrangimento de falar com ele. Pega as malas, pronta para ir embora.

Dá um último olhar pra trás, vê a cara dele de triste.

- Quer saber?! - anda decididamente até ele, dá um leve toque no ombro e o beija, palavras não são necessárias.

- Mas... mas....

- Shhhh. Você falou de menos quando precisava falar, agora continua errando no timing. - Mexe na bolsa, procurando uma caneta pra anotar o telefone na mão dele, acha o batom sem querer.

- Huuum, aposto que ele vai se adorar se eu escrever com o batom, como sou boba, né.

Claro, escreve com o batom.

Dá um beijo de despedida e vai.

Uma Viagem de Ônibus

Finalmente! Finalmente acontecera.

Três anos e meio depois, depois de 40 ou 50 viagens de horas e horas, ele sentara-se ao lado de uma mulher bonita, bonita não, linda, num ônibus.
Nesta altura ele já estava resignado a agüentar velhos malcheirosos, velhinhas algo babonas e gordinhos que não cabendo na própria poltrona usavam a poltrona vizinha como assento.
Depois de tão longo tempo de frustrações ele nem esperava mais nada. Quando aquela magnífica loura passou por ele no corredor, ele se contentou apenas em admirá-la, nem cogitou a possibilidade dela sentar ao seu lado. Seria bom demais para ser verdade.
Estava sentado quando a viu passar. Depois do motorista dar as instruções de praxe, sentiu-se feliz por não haver ninguém ao seu lado no banco. Uma viagem espaçosa, pensou.
Qual não foi sua surpresa quando a garota que havia atiçado a imaginação dos passageiros do sexo masculino passou por ele novamente, foi até a frente do ônibus, pegou um copo d'água e ao voltar, sentou-se ao seu lado.
Devia estar no banheiro, conjecturou.

Porém a questão do momento era: o que fazer. Depois de tantas expectativas o momento havia chegado. Desafortunadamente não tinha nada preparado para a ocasião. Teria que improvisar.
Não era um mestre da arte da corte mas também não era um novato, tinha suas armas.

Antes de iniciar o approach observou bem a moça. Loura, olhos castanhos, nariz um tanto arrebitado, lábios à la Jolie. Usava uma blusa branca decotada que valorizava suas posses. Não haviam muitas reclamações a serem feitas de tão bela moça.

- Meu, tá chovendo de novo. São Paulo vai encher que nem quinta feira, ô cidadezinha, viu? - foi a escolha dele para o começo de conversa.

Ela assentiu com a cabeça.

Sabia que era um péssimo início, pensou. Ela é tão bonita que tá atrapalhando minhas idéias, droga.

Talvez uma nova tentativa? Vou dar um tempo antes, ler um pouco, quem sabe até ELA não puxa conversa? Mexe na mochila, tira o Saramago e a Caros Amigos. Folheia um pouco a revista, lê alguns artigos, a fecha e lê um pouco do livro.

É, aparentemente não vai ser iniciada por ela a conversa.

Mas que gelo esse ônibus, acho que vou desligar o ar-condicionado.

- Tá frio, né? Quer que desligue o ar-condicionado?

Ela fez que não precisava com a cabeça e reforçou com a mão, apontando o edredom que estava aos pés dela.

Ok. Ela é muda, definitivamente. Só pode ser. Deus é um brincalhão mesmo, sarcasticozinho sacana. Nunca acontece comigo e quando acontece, a menina é muda!

Bom, talvez seja exagero de minha parte. Talvez devesse tentar uma abordagem mais direta, não há nada de errado com isso... perguntar o nome, o que faz. Uma conversa normal.

Ele respira fundo, decidido. Vira para a companheira de viagem, pronto para iniciar a conversa.

- Ela tá dormindo! AGORA que eu tinha tomado coragem, sem comentários. - murmurou nervoso. - Ah, isso não fica assim. Agora que comecei, vou até o fim.

Maquinava várias maneiras de acordar a garota sem parecer um louco ou pior, um desesperado.

Ficou entre duas possibilidades, um esbarrão semi-casual ou a queda completamente involuntária do celular.

Optou pelo celular. Cuidadosamente, esticou o braço e sem dó, abriu a mão onde estava o celular. Ruidosamente ele caiu e quicou. Uma pequena inquietação nas poltronas adjacentes.

A vizinha de banco se mexe, abre os olhos.

- Acordei você? Perdão.

- Imagine, eu não tava conseguindo dormir. Você também não consegue dormir em ônibus?

Ótimo, ela fala. E puxou conversa ainda por cima, beleza.

- Olha, antigamente eu dormia com muita facilidade só que de uns tempos pra cá, inexplicavelmente, não consigo. Estranho, né? - que conversinha besta essa minha, pensou ele.

- Arrã.

Silêncio constrangedor.

- Já te vi lá na faculdade, sabia? - disse a moça.

Nossa, ela já me viu lá. Como eu nunca vi essa loira é que eu não entendo.

- É mesmo? Mas que mal-educada, hein? Nem deu oi - falou, rindo. - E o que você faz?

- Enfermagem. Você?

Enfermeira? Mas é bom demais pra ser verdade.

- Economia. Ah, você conhece a Andréa do 3º ano?

- Conheço sim. - falou a moça numa voz gélida.

Melhor mudar de assunto, parece que esse não agradou.

- Ah, Tiago. Prazer.

- Patrícia. Todos me chamam de Pati.

Segue-se a típica conversa. Quantos anos, de onde é, etc e tal. Uma mínima química se segue. Invariavelmente, o assunto vai esmorecendo e o momento do silêncio em que a melhor continuação seria um beijo... claro, sendo ele quem é, não acontece.

Pode-se dizer que houve uma 'ligeira' (sendo generoso) indecisão de ambas as partes e um belo momento ficou extremamente constrangedor.

- Ahn, então beleza, né. Acho que vou tentar dormir um pouco, tenho que ir pra aula logo pela manhã.

- Ok, vou dormir também.

Covarde. Arregão. Medroso. Isso que eu sou. A chance que eu espero há anos e não fiz nada, nunca mais reclamo que nunca senta ninguém bonito ao meu lado. O karma provavelmente será sentar do lado de gordos velhos que puxam conversa ininterruptamente e reclamam se você acende a luzinha para ler. Maravilha.

Quer saber? Dane-se. Vou dormir que ganho mais.

Frustrado, encosta na janela imaginando o que poderia ter sido...

****

Desce do ônibus, entra na fila para pegar a mala. Observa conformado Patricia pegar as suas e ir embora.

Me sinto o cachorro correndo atrás da lebre, destinado a nunca agarrá-la.

Assusta-se com um leve toque no ombro. Era ela... mas o que poderia querer...?!

Os outros passageiros vêem com curiosidade a garota beijando o surpreso (e extasiado rapaz).

- Mas... mas....

- Shhhh. Você falou de menos quando precisava falar, agora continua errando no timing. - Dá-lhe mais um beijo, agora mais ao estilo carinhoso. Escreve o telefone com batom no punho do rapaz.

Despede-se.

Isso aconteceu mesmo??? Belisca-se várias vezes, imaginando o que falar quando chegasse à faculdade.

A parte do batom era chave. A de quem tomou a iniciativa, nem tanto.

Pegou a bagagem, tomou um o rumo de casa. Com um sorriso irrepreensível no rosto.

****

Uma outra viagem de ônibus ou Uma Viagem de Ônibus, versão do diretor, em breve, neste bat-canal.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Em Paz



'How 'bout how good it feels to finally forgive you'.

****

Dois anos haviam se passado. Nem de longe parecia tanto... para ele a ferida era recente, sentia ainda o sangue escorrendo. Lembrava nitidamente do dia em que recebera a fatídica notícia. Nunca esperaria, pelo menos não deles. Dela talvez, mas dele? Um baque duro, do qual ele tinha se recuperado (será mesmo?) a duras penas.

O amigo ainda ligava, religiosamente, todo domingo, convidando para um café ou uma cerveja, o que ele quisesse. Nunca aceitava. Em verdade, também não negava, apenas dizia que combinariam. Nunca deu o braço a torcer de ligar. Só de lembrar quantas vezes o amigo pedira para que o entendesse e o perdoasse. Teimosamente, como era sua característica, insistira na dureza de espírito.

Dessa maneira, se afastou de todos. Raramente saía agora. Saía para comer algo, alugar seus filmes velhos e no máximo dar uma caminhada no parque. Concentrava-se mais do que nunca no trabalho que agora o absorvia de uma maneira impensável para alguém que o vira dois anos antes.

Fumava mais, bebia menos. A bebida por sair menos, talvez. Mesmo que de vez em quando abrisse um vinhozinho para ver algum Hitchcock menor. Morar longe da família tem suas vantagens, principalmente na hora de esconder algo. Facílimo se o desejar.

****

Havia terminado os cálculos para aquela estrutura que seu chefe estava cobrando desde segunda. Estaria tranqüilo por alguns dias no serviço agora. Permitiu-se um sorrisinho de satisfação ao pensar que talvez pudesse ligar pra alguém da velha turma, tomar uma cervejinha. Um prazer mundano, mudando um pouco sua solitária rotina.

De bom humor, juntou as coisas, limpou a mesa para o fim de semana. Pegou o carro, saiu.

Ligou o rádio, Beatles ao fundo. Uma sensação leve o dominava. Abriu os vidros, vento no cabelo, praticamente uma música de Roberto Carlos.

Porém, nunca é tão simples, pelo menos não para ele. A alguns quarteirões de sua casa viu os dois andando despreocupadamente na rua, rindo de alguma coisa provavelmente sem importância. O típico casal apaixonado. Aquilo o abalou profundamente, quando se está 'desarmado' o golpe tende a ser mais forte.

Esteve muito tempo de guarda levantada e justamente no dia em que havia se dado uma chance de relaxar, via aquilo. Doía mais pelo fato de ter ouvido rumores dos dois não estarem mais juntos. Um prazer culpado apoderara-se dele quando ouviu o tal rumor, obviamente errôneo.

Estacionou o carro, inseguro do que fazer. Ir para casa e continuar com sua rotina? Ignorar o acontecimento e seguir com o plano de fazer algo diferente? Claro, optou por nenhum. Saiu do carro, rumou para onde estava o casal.

Surpresos com a presença os dois fizeram menção de conversar, saudaram-no. Ignorou-os, e de maneira simbólica (claro, inútil) passou entre os dois, 'quebrando' o elo feito pelas mãos entrelaçadas.

Rumou ao primeiro bar que encontrou. Pediu o amigo das horas difíceis, Johnnie e assistiu o líquido bronze fluir até o copo com gelo.

Um cigarro. Dois. Amaldiçoava-se por ter se dado ao luxo de ficar desarmado. Achava, como todos que sofrem, que sua dor era maior que a que qualquer um já havia sentido. Uma grande bobagem se me permitem opinar. A natureza da dor é ser ímpar, cada um sofrendo à sua maneira, não há termo de comparação.

Terminou o copo. Olhou para a rua, a chuva acabara de começar.

- Pior que estou, não dá. - pensou. Pagou, saiu para a rua.

Andou alguns metros debaixo da água que não cessava de cair. Pensando em como havia chegado até ali.

Parou em frente a uma loja de eletrodomésticos, uma música tocava. Ouviu um trecho.

'How 'bout how good it feels to finally forgive you'. Aquilo caiu como uma granada.

Pensou em quanto tempo guardava aquelas coisas ruins dentro de si, o amargo, a raiva, a frustração. Talvez tenham errado com ele, como se ele não houvesse errado também inúmeras vezes. Pessoas tão especiais que significavam tudo para ele, trancou-as para fora de si.

Lembrou de quantas chances teve de finalmente limpar o fel, todas insucessos.

E chorou. Finalmente chorou, dois anos depois daquela última lágrima ter escorrido por seu rosto. A água da chuva misturada com o sal das lágrimas, purificando-o, limpando-o de tudo o que estava guardado, bem lá dentro, toda a raiva, ódio, tristeza, frustração.

Pegou o celular, apertando as teclas bem devagar como se escrevesse um condoída confissão. Esperou ser atendido.

- Alô.

- Oi, cara. Tudo bem?

- Tudo beleza, Fino. E você?

- Certinho. Só você me chama de Fino. Sabe que odeio.

- Por isso que o chamo assim, panaca. Aceito aquele café agora. Tá de pé ainda?

- Sempre. Eu passo aí ou você passa aqui?

- Passo aí, até já.

- Ok.

Desligaram.

Rumou para a casa que não visitava há dois anos. De corpo e principalmente alma lavados.

Enfim, livre.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Seguro Morreu de Velho

Apart-hotel. Santos. Um casal deitado na cama. Ele, gordo, quarentão, baixinho, careca, bonachão. Ela, ruiva (artificial, claro), visivelmente em forma, não muito alta, rosto não muito marcante, comum.


- Ai amor, tô muito feliz que você largou dela e comprou esse apartamento pra gente. Olha que a Tatá falou pra eu não acreditar, que você era um pilantra e estava me enrolando. Queria ver a cara dela agora.
- Que bom que você está feliz, Didi. Fiz tudo isso por você.
- Oooun, que lindo. Pena que você está ficando tanto tempo em São Paulo, né amor?
- Você sabe que não posso deixar a empresa só com o Carlos Augusto, tenho que supervisionar as coisas. Afinal, ela pagou por tudo isto aqui.
- Eu sei querido. Me beija.

Beijam-se longamente. Em pouco tempo estão nus.

Um celular toca.

- Querido, acho que é o seu.

Claramente entretido em outras coisas, ele diz:

- Mmmm, deixa tocar, depois eu ligo de volta.

Didi, enrubescida e ofegante: - Espera Aristides, vou ver quem é... dependendo você atende.

Aristides resignado, assente.

- É o Carlos Augusto, amor.

Frustrado ele pega o telefone. - Tá, vou atender ali na sala... não quero que assuntos de escritório estraguem o clima, tá bom, querida?
- Tá.

Aristides põe o roupão, pega o celular e vai pra sala.
Atende.
- Oi, querida. Tudo bem com as crianças?
Abençoado seja o dia que trocou o nome da mulher pelo de Carlos Augusto.
Afinal, seguro morreu de velho.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Décimo Sétimo Andar

São Paulo, Avenida Faria Lima. Um edifício de escritórios.

Décimo sétimo andar. Salas fechadas com chefes, sub-chefes, gerentes, sub-gerentes jogando paciência e abrindo emails, rodeiam vários cubículos onde os que tentam jogar paciência e ler emails são
repreendidos pelos sanguessugas que sobem na empresa às custas do trabalhos dos cubiculares.

Miremos um cubículo em especial. Algo desarrumado, uma cadeira já com um braço bambo, várias lapiseiras sobre a mesa (nenhuma com grafite), algumas canetas espalhadas (duas no chão), uma foto de um rapaz com sua esposa, talvez? Ah, e uma bandeira do Atlético Paranaense.

Atlético Paranaense?! É, qual o problema de um paranaense radicado em São Paulo? Nenhum, só é estranho, pensa o leitor, com os seus botões (seriam teclas hoje em dia?).

Do corredor vem um esbelto rapaz, passos fáceis, camisa um tanto amarrotada, cabelos mais longos que a média, encaracolados, tez morena, nariz aquilino com as bochechas um tanto quanto salientes.
Senta na cadeira do cubículo previamente por nós observado.

Desdenhosamente folheia um relatório de longas noventa páginas. Onze horas ainda! - pensa o rapaz. - E eu não comi nada pela manhã, muito inteligente de minha parte.

De súbito, pelo canto do olho, vê um de seus seis chefes/superiores andando em volta dos cubículos. O pânico se apossa de seu corpo. Começa a rabiscar furiosamente o relatório, como se entendesse algo daquilo.

Com o fingimento a todo vapor, passa às suas costas um inchado homem, olhos puxados, terno de segunda linha (impecável, todavia), barba hirsuta, óculos grossos que lhe davam um certo ar venerável.

André (nosso querido torcedor do Furacão) respirou aliviado após a passagem do Suzucão, como este chefe era 'carinhosamente' chamado pelo pessoal do setor de aquisições (tinha bochechas buldoguísticas por assim dizer).

Não tão rápido. Alguns metros depois do cubículo de André, nosso saudoso Suzucão deu meia-volta como que percebendo a repentina mudança de postura de seu subordinado.

- Eu não acredito. Cacete! - resmungou entre dentes ao perceber o retorno da rotunda figura.

- Olá, Sr. Garcia. Como vai aquele DLS que o senhor deveria ter entregue ontem? - indagou o canino chefe, com um desprezo palpável ao pronunciar 'ontem'.

- Olha só, sr. Suzuki, veja bem... eu estava atolado naqueles ofícios que o senhor havia repassado... hã... daí estou meio atrasado e... - André visivelmente estava atrapalhado. Falando a verdade mas de uma maneira não exatamente convincente.

Todos sabemos que é melhor ser convincente que honesto, especialmente num ambiente de trabalho.

- Vamos até a minha sala. - disse imperativamente o Sr. Suzuki.

Alguns olhares curiosos dos cubiculares para aquele estranho casal, Stan Laurel e Al Hardy do 17º andar. Um obeso, desengonçado, com as famosas 'pizzas' sob os braços, seguido de perto por um magrelo de cabelos revoltos e andar de sambista da Lapa.


****


Senta André numa cadeira preta, em frente à mesa de Suzuki. Este último fecha a porta atrás e senta-se na poltrona, de frente pra André.

Entrelaça os dedos e fica com a mão em forma de cunha segurando o queixo (ou seriam queixos?).

Começa.

- O desempenho do senhor neste trimestre está I-NAD-MIS-SÍ-VEL - parecia saborear com um prazer sádico tais palavras. - Sempre chegando atrasado, eu e o Marques já notamos também o tempo que passa ali na salinha do café e também o tempo que fica fingindo que trabalha. Se continuar assim...

- Éééé´... sabe como é né sr. Suzucão... digo, Suzuki. Ando tendo problemas em casa...- emendou com uma risadinha nervosa - ... meu filho anda doente...

- NÃO INTERESSA! - interrompeu o volumoso. - E NÃO olhe para mim com essa cara de indignação, você deveria estar agradecido pela minha paciência. Muitos outros já estariam na rua! Estou sendo demasiadamente paciente. Agora suma daqui e vá fazer seus afazeres. Aquele DLS até o fim do expediente na minha mesa ou nem precisa voltar segunda feira.

André levanta.

****

André ao levantar, visualiza o abridor de cartas, reluzindo convidativamente. Com um golpe certeiro na jugular, cala para sempre o buldogue humano. Abre a porta. Fecha a porta.

Senta em sua mesa, abre o site do globoesporte. Meio dia vai embora para nunca mais ser visto.



****


André levanta. Respira fundo, buscando canalizar o ódio.

- Olha aqui, meu querido Suzucão... não vem com ameacinha não ou vou ligar na tua casa e falar pra tua mulher que tu anda pegando o Tato da manutenção, pensa que eu não sei?

- O senhor não pode falar neste tom comi... - interrompido bruscamente por um tapa no rosto, a redonda figura, abaladíssima com a situação, cala-se.

- Se eu for demitido, você pode começar a atravessar a rua olhando BEM para os dois lados, ok? Assim, só uma dica. Sempre cheque também os seus freios, dica de AMIGO. Antes que eu esqueça, sei que o senhor pegou aquele meu parecer mês passado e falou que era seu, não acredito que tenha sido a coisa mais justa. Acho que seria uma boa um aumentozinho antes que eu ligue pro Dr. Tadeu e conte toda essa palhaçada.

- Veja bem, podemos nos acert... - EI! Dá pra parar de bater? - em voz juvenil, reclamou o redondinho.

- Mas eu não falei que era pra fechar o bico? Cara surdo, meu. Então você cuida dessas coisas pra mim, né? Valeu irmão. Xá' só eu tomar um cafezinho aqui que já vou lá pro meu paciência spider.

Põe o copo na mesa, abre BEM a garrafa térmica e começa a despejar o conteúdo. 10% por cento no copo. Uma comparação apropriada ao que se tornou mesa seria aqueles vazamentos de óleo no Pacífico.
- Puuuutz, Suzukão! Desculpe hein! Eu limpo, xá' comigo. - Arranca metade da folhagem de um bonsai próximo e esfrega nem um pouco cuidadosamente na mesa.

- MEU BONSAI!!!

- Ah, você gostava disso aqui? Sabia não... segure aí. - falou despreocupadamente o rapaz, jogando a folhagem lambuzada de café no peito de Suzucão.

Sai, pisando macio.

Abre a porta. Fecha a porta.

Triunfante.

****

André levanta, cabisbaixo, pensando em todas as coisas que queria ter feito àquele gordinho folgado.

Abre a porta. Fecha a porta.

Ruma a seu cubículo, resignado.

- Se eu não precisasse desse emprego...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Chegadas e Partidas



Som de chave na fechadura.

Quem poderia ser a essa hora da manhã, pensa ele.

Ela.

- Não achei que estaria aqui. - Disse a atraente morena, lábios bem desenhados, com um certo quê de pesar pela presença do outro.

Continua linda, refletiu o rapaz, que já tinha visto melhores dias. Havia engordado um pouco, as maçãs do rosto além de salientes, rosadas. Seria hipocrisia, porém, chamá-lo de outra coisa que não um belo espécime.

- Pois é, não fui trabalhar hoje... nem nenhum dia essa semana. - Asseverou com um olhar vazio.

- Você não deveria estar assim ainda. Já se passou um tempo, não gosto de ver você desta maneira.

- Quem disse que é por sua causa ainda? Tá se dando valor hein! - mentiu o jovem.

- Ok, não falo mais nisso. Vim pegar o resto das minhas coisas.

- Olha, meio que deixei separado. Tem algumas caixas ali na salinha, se quiser dar uma olhada... tem café aí, tem suco também.

- Não, grata. Vou dar uma olhada então.

Uma salinha de tevê, um tanto apertada. Um sofá de couro, dois lugares, dois pufes, uma tevê com anteninha plasmatic acima e muuitos dvds espalhados pelo cômodo inteiro.

Passa-se algum tempo, ela mexendo nas caixas, ele observando, disfarçando o olhar decepcionado.

- Parece que tá tudo aqui mesmo. - Espera aí! Aquele Closer ali é meu, o Alta Fidelidade também. Aquele Saramago e os dois do Verissimo ali debaixo, se bem me lembro você que deu. Tá malandro hein?!

Ela lembrou! - pensou ele em triunfo. Talvez ele não seja tão esquecível, after all.

- É verdade mesmo, tu tens razã. Pode colocar na caixa, desculpas.

- Dánadanão - falou ela, de um fôlego só.

- E essas fotos aqui, que eu faço com elas? - inquiriu a garota.

Putz, pensei que ela ia querer as fotos. Eu já tinha até tirado cópia, just in case. Merda, o que falar?

- Você não quer? Pode levar, façoquestãonão. - Mentira, deslavada.

- Ah, vamos jogar fora se é assim. - Mal sabia ele, que a bela já havia colocado disfarçadamente no bolso as fotos que mais gostava.

E o jogo de empurra continuava.

- Porra, isso é história né! Vai jogar fora? Puta sacanagem tua. Mas se quiser assim, por mim tudo bem.

Meio nervoso meio fingindo, pegou o bolo de fotos e foi seco para a lata do lixo.
Constrangida e com consciência pesada de fingir que não se importava, foi até ele, com a chave nas mãos.

- Acho que não vou precisar mais disso.

- Provavelmente não, por sua própria escolha. - falou, amargo. - Aposto que a vida tá mais divertida, assistir filmes velhos e beber vinho barato não é mais teu perfil, é? - Indagou, com sarcasmo escorrendo pelo canto da boca. - E o tal do cruzeiro?

- Aposto que você não quer falar disso.

- Querer eu até quero. Entretanto, imagino que você não.

- Pronto, então. Já vou indo, tá? Qualquer dia a gente se encontra... se cuida, não fica assim não.

- Hrmm - grunhiu, meio a contragosto.

A isso segue um abraço. Constrangido. Ele não querendo largar, ela incerta de estar gostando ou não, se desvencilha com o maior tato possível.

- Tchau.

- Tchau.

Ele tranca a porta, senta em frente, olhar perdido.

Pelo menos ela lembrou.

Elevador, a garota observa uma chave reluzente na palma das mãos.

- Nunca se sabe.

O Adeus do Comandante




Cinco longas décadas depois, Fidel Castro renuncia a sua posição de Presidente do governo cubano.

O fim de uma era.

Fidel, nos idos de 1959, derrubou o governo corrupto (com suas ligações escusas com os EUA) de Fulgencio Batista, revolucionando para sempre a Ilha e o mundo.
Cuba deixou de ser o prostíbulo americano (vide Poderoso Chefão II) para ser o foco socialista na América Latina.
Não contentes com as décadas de domínio, opressão, os ianques sentindo-se lesados pela nacionalização das empresas que tinham em Cuba, impuseram um criminoso embargo contra os caribenhos.
Esse embargo vigora até HOJE! Provavelmente os cubanos só tenham sobrevivido graças à ajuda soviética e mais tarde graças à sua perseverança e confiança no regime.
A escassez é evidente porém o povo cubano resiste, como é de sua natureza.
O saldo do governo castrista não foi todo positivo. Uma guinada autoritária (infelizmente talvez necessária, posto que embargo é um ato de guerra pelo Direito Internacional), que para seus detratores anula a excelência em medicina, no esporte e na educação, num país onde todos têm ensino superior.
É, fica claro que quem colherá os louros do regime socialista serão as multinacionais que se instalarão em Cuba nos próximos anos, tendo à sua disposição mão de obra incrivelmente qualificada e OBSCENAMENTE barata.

Um salve ao revolucionário Fidel Alejandro Castro Ruz. Um dos últimos (pena) e mais importantes socialistas da face da Terra. Um legítimo libertador das Américas, com estatura suficiente para ficar ao lado de grandes como San Martín, Simon Bolivar e Che Guevara.

Post Scriptum: para quem acha que a mera saída de Fidel vá resolver algo, lembro a todos que a alternância de poder no Brasil não resolveu porra nenhuma.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sobre Viagens No Tempo




Nessas sessões da tarde da vida, cine sucessos e o caralho a 4, todo mundo já viu aqueles filmes estilo 'um garoto na corte do rei Arthur' and so on né... bom, tirando a implausibilidade do negócio me imagino na pele dos protagonistas desses filmes.
Pense, sempre eles tem um isqueiro, um discman/walkman/iPod, laptop, mapa astral pra falar sobre algum eclipse ou no mínimo uma sorte do caralho em prever algo que impressiona os nativos, certo?

Pequeno aparte, sabe porquê em 9 de 10 filmes de viagem no tempo os caras vão pro passado? Acredito eu, na minha incrível empáfia (vã ignorância) que ou é por falta de criatividade do idiota do roteirista (muito mais fácil colocar os caras no calabouço do barão de Santo Antônio ou no meio dos dinossauros ou com o João Homem das Cavernas do que imaginar um futuro pós-apocalíptico onde a China dominou o Universo conhecido) ou por falta de dinheiro de colocar efeitos especiais nas armas laser, só pode ser isso haha.

Mas voltando à vaca fria (aliás, que negócio é esse de vaca fria!? A expressão rolando solta e ninguém pensou na pobre da vaquinha, né!? triste) nesses filmes B/C/D todo cara que volta no tempo sempre tem alguma coisa que ele usa no momento que vai ser capturado/assassinado e daí ele vira o feiticeiro/xamã/eminência parda da região e isso serve pra ele ganhar tempo arranjar uma maneira de voltar ao seu tempo e etc.

Agora cheguei ao ponto que eu queria: eu NUNCA poderia ser o protagonista dum filme desses (tirando o fato que eu não sou ator, mas still), porque pra começar estaria sem qualquer instrumento eletrônico em minhas posses (o celular estaria provavelmente esquecido atrás de algum sofá ou em alguma mesa de bar, como já aconteceu n vezes e o meu iPod tá mais louco que o Rafael do Polegar). Bom, ok, agora imagine eu, cercado por cavaleiros medievais ensandecidos (podem ser homens das cavernas, índios ou whatever, é ao gosto do freguês/leitor) vendo um loirinho de olhos claros, calça jeans surrada e alguma camiseta com algum desenho imbecil, os trogloditas iam achar que eu era um normando, com toda a certeza. Claro que ao ver um inimigo em tão estranhas vestes eles antes iriam me inquirir (grunhir) antes de me trespassarem com uma lança, indubitavelmente tetânica. Esse seria aquele momento cliffhanger onde eu puxaria um canivete do bolso, ou daria uma de mc gyver com um bubbaloo, um palito de dente e uma lente de contato fazendo (CLARO!) uma granada de fumaça e os tais veriam na minha humilde pessoa a reencarnação de Merlin.

Here's the thing, sou um cara urbano, não sei armar uma barraca (sentido literal, gente), não sei fazer fogo com dois tecos de madeira, mal sei trocar uma porra duma lâmpada, já tentei fazer pequenos ajustes domésticos porém na maioria das vezes só consigo a famosa GAMBIARRA, em suma, não manjo nada... pra piorar, não faço engenharia nem muito menos medicina ou qualquer outra coisa que pudesse me ajudar numa época que nao a minha (eu seria um anônimo em LOST com toda certeza). Pensa,o que um um advogadozinho de merda ajudaria na Távola Redonda? Aconselhando o Artur a fazer acordo com o Mordred? Ou senão, relaxa Ramsés, o caso desses assírios é muito fraco, o juiz vai até julgar antecipadamente. HA HA HA resumo da ópera, mesmo se eu enrolasse os cavaleiros andantes com as já famosas (graças a esse ilustre blog) lanças tetânicas, não duraria o suficiente pra virar um filme B/C/D...

Sad, né não?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Da insanidade de torcer para futebol

Porque eu gosto de futebol?
É difícil responder, só me irrito, juízes ruins, esporte onde na grande maioria das vezes o melhor não vence, que é tão sujo quanto a política e et caterva.

Mas o que mais enche é a imprensa esportiva.
Puta que o pariu.
A babação de ovo na transmissão hoje de Marília e São Paulo foi de vomitar. Só eu acho estranho Oscar Roberto Godói, comentarista de arbitragem e ESTAGIÁRIO NO SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE, comentar o jogo do SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE?
Ah, acho que só eu mesmo. Não parece haver nenhum conflito de interesses. Quer dizer, porque diabos ele puxaria a sardinha para o lado são-paulino, nem é um EMPREEEEGO, é só um estágio.

Caralho, é muita safadeza.

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Essa semana não acompanhei muito futebol e só fiquei sabendo hoje dum incidente envolvendo a rádio Jovem Pan e o Palmeiras/Valdivia.

Resumo da ópera, finalzinho do jogo Guarani x Palmeiras, Valdivia recebe a bola, faz 3 embaixadinhas e tenta driblar um adversário, sofrendo a falta.
Logo após o lance, o locutor do jogo afirma: "Não quero incitar à violência, mas se eu fosse atleta do Guarani dava uma porrada no Valdívia”.
Putz, ainda bem que você não queria incitar a violência, BABACA.
Sério, não ouço mais essa rádio, masoquismo já é demais.

Para um detalhamento melhor:
http://blog.sopalmeiras.com/2008/02/12/jovem-pan-to-fora-sou-palmeiras/
http://blog.sopalmeiras.com/2008/02/14/jovem-pan-a-batalha-continua/

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Então, faz um tempo já que eu fico com essa história de direitos federativos na cabeça. Time X comprou os direitos federativos do jogador Y e assim por diante. Pensava eu com meus botões: mas se não tem mais o 'Passe' como que tão comprando e vendendo alguém.
Não satisfeito com o jornalismo preguiçoso, fui caçar a resposta. Li a Lei Pelé, achei alguns artigos sobre e descobri uma coisa (acho que eu já sabia o tempo todo): jornalismo esportivo é o último refúgio dos incompetentes.
Porque falo isso? isso explica melhor que eu 'http://conjur.estadao.com.br/static/text/23825,1'.
Para os preguiçosos, resenharei. Antigamente (antes da Lei Pelé) para um jogador se transferir de clube, não bastava seu contrato acabar e ele fechar contrato com outro clube. Não não, seu clube tinha uma espécie de domínio sobre ele, o passe, e sua transferência só poderia acontecer com a anuência de seu clube, geralmente este anuía se recebesse uma importância em dinheiro. Agora, o que acontece é que o futebolista funciona como um trabalhador comum, única diferença é que seu contrato de trabalho tem um termo final, não é contínuo.

Ou seja, agora, ao final do contrato ele assina com quem quiser, sem pedir permissão a ninguém. O que se anda chamando de direitos federativos nada mais é que o valor pago pela rescisão de contrato.

Não estou aqui sugerindo que todos os jornalistas façam curso de Direito, como o tontão aqui faz. Longe disso. SÓ QUERO QUE OS CARAS PESQUISEM ANTES DE FALAR MERDA!
Olha, sabem como eu acho que essa bobeira toda começou? Algum desavisado jornalista, órfão do PASSE, perdido sobre como escrever sobre transferências de jogadores, CUNHOU esse termo verdadeiramente bisonho. Algum outro mais desavisado ainda, achando que o companheiro entendia alguma coisa daquilo, o copiou... e a bola de neve não parou de crescer desde então.

É.

Decepcionante.

E assim caminha a mediocridade.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Schadenfreude




Schadenfreude

Schadenfreude
Inglês esse

Conheci essa palavra não faz muito tempo... aliás, alemão é uma linguazinha desgraçada né, nunca vi, cadê as vogais cacete
Bom, acredito ser um sentimento que já passou pelo coração de todos, ou estaria eu sendo pessimista demais em relação à raça humana? Eu sinto sempre, aquele prazer culpado de ver alguém se dar mal, sabe? Confesso que antes de saber o significado eu já tinha feito isso várias vezes, ver se aquele babaca que estudava com você tinha se dado mal no vestibular ou se aquela menina que você odiava ainda namorava um cara que não valia o cão que pisava... sim, schadenfreude é um sinônimo de ser filho da puta, mas me acham mesmo, might as well be one.

Claro que a glória maior no Schadenfreude é não participar do fracasso alheio e sim ser apenas um mero espectador... é o prazer do i told you so, muito bom hehe. Mas, digressiono... escrevi esse post por dois motivos: um, descobri essa palavra ótima hehe e dois, vi outro dia na rua uma pessoa de way back, manja, bom, long story short trombei a pessoa na rua etc e tal... depois, fucei no orkut (orkut é uma ferramenta mágica se usada sabiamente) e vi que a tal continuava igual, n anos depois estava no mesmo ponto, zero evolução, incrível como tem gente que não cresce... e bateu uma sensação de vitória, sabe? Parece crueldade ou maldade e pode até ser, mas não sinto culpa, apenas alívio de saber de como estava certo.

Again, pode ser verdade como pode não ser. MAs imagino que o fato de poder ser verdade é o que faz ser sincero.

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Hoje, uma pequena surpresa. Fuçando nos blogs que eu gostava de fuçar antigamente, me deparei com algo que não esperava. Um prévio destino de minhas andanças pela net, que me fazia rir, refletir e muitas vezes discordar, desta vez não me fez nada.
Nada.
Achei pretensioso, pseudointelectual e pior de tudo, requentado. Aquele ar de 'já vi isso antes' e not in a good way. Talvez com a popularidade venha a mediocridade, quantas vezes não vemos isso na literatura, música e cinema. Não haveria porquê na blogosfera ser diferente, apesar de a esperança sempre estar lá.
Claro que é normal mudarmos de gosto com o tempo, eu gostava de Capital Inicial for crying out loud. Mas é estranho ver uma mudança tão abrupta, tão rápido.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Digressões Stalloneanas

Você vai rir.
Eu sabia todas as falas de Rambo II, a Missão.
Sério.
Até lembro o finalzinho:
- E agora, John? Como você vai viver?
- Dia a dia.

É, pode-se dizer que meu gosto cinematográfico se ampliou um pouco, pra dizer o mínimo.
E o coitado do Stallone (coitado o caralho, milionário, coitado somos nós haha) ouve muitas críticas desnecessárias. Tá, ele tem a boca torta. Beleza, a ADRIAN é a personagem mais chata da história do universo conhecido. E o desgraçado faz uns filmes ruiiiiiiiins pra cacete.

Mas sei lá, não acho o tiozão mau ator. Copland era um papel difícil. Burro também ele não é, ele que escreveu o roteiro do Rocky. Ok, típica Cinderella Story ianque mas still...

E porque cargas d'água eu tô falando desse velho fanático por academia? Beats me. Acho que o álcool do carnaval tá tendo efeito retardado.

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Putz, agora obcequei no Sly Stallone. Mexendo no IMDB (puta site legal) agora, nem sabia que o boca-torta tinha escrito tanto filme, amazing.

Mas que tem uma filmezada péééééssima, ah tem. Stallone Cobra foi ele mesmo que escreveu (há! surpreendente, murmura você solitário olhando para a tela, lendo esse post tosco).
Várias proezas tem o garotão, filme com nota 2.8 e 3.8 lá no IMDB, é duro de conseguir, acho que nem A Dama na Água tem nota tão ruim.

Porém, o meu pobre leitor se pergunta: "O que esse socialistinha pretende falando do Stallonge (há! fala que não sou engraçadão!)?".

Pergunta pertinente, sem a menor dúvida. Na realidade, numa dessas n retrospectivas que fazemos de nossas vidas, lembrei o fato que eu adorava Rambo, sério mesmo, fãzaço. No entanto o que me deixa perplexo hoje é o fato de eu pequeno adorar o III e o II. O primeiro que tem uma puta história legal, eu achava uma merda.

Resumo da ópera, matança basicamente sem sentido e pró-ianque = LEGAL! PÕE DE NOVO DESDE O COMEÇO, MÃE!
Agora, filme sobre um ex-veterano desajustado que sofre preconceito justamente por ser estranho e desajustado, e faz uma puta crítica da sociedade estadounidense, além de ter ação pra cacete = CHATO PRA CARALHO!

Sério, I'm fucking glad de ter envelhecido. E sim, envelhecer inclui abandonar Michael Jackson e tênis com luzinha. E livro do Pedro Bandeira hahaha.

Thank God.

Lost in Little London

É, decidi-me a fazer um blog. Talvez um pouco por conselhos ( pressão =] ) de algumas pessoas. Na verdade eu estava me sentindo compelido a publicar meus algo impublicáveis pensamentos já há algum tempo. E que hora melhor para começar do que as férias da universidade, além da greve que tomou o meu lugar de trabalho.
Vamos ver se dura o meu pique de escritor, né?

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Lost in Little London

Sim, carreguei no clichê no título. É um pouco do que sinto, actually (acostumem-se, não sei porque sempre meto umas inglesadas no meio do texto, cool huh?). Explicarei-me: moro em Londrina, sou de São Caetano do Sul. Posso dizer que me sinto à vontade aqui, todavia não COMPLETAMENTE. Em verdade essa história de morar fora pra fazer faculdade funciona dum jeito estranho, eu não sei mais de onde sou... sempre bate aquela sensação de que I don't belong quite here, nas duas cidades.
Por isso o LiLL. Pode falar, ficou sonoro, falaí? haha
Mesmo com esse começo nada auspicioso espero que VOCÊ (espero sinceramente que sejam VOCÊS, não quero ser o blog de um leitor só) retorne pra ler os meus ramblings.

Good night and Good Luck.

Namaste!

hahah

Tá, parei com as referências.

PS. Leave the gun, take the cannolis...

(Já descobriram que sou mentiroso, né?)

ATÉ!