domingo, 11 de maio de 2008

E agora, José?

Era de se notar que acabara de acordar, cara amassada, cabelo desgrenhado. Ainda sentia bem os efeitos do álcool, principalmente pela cabeça latejante. Ao seu lado ainda dorme a companheira de longa data. Não contínua, fato que eles preferem não alardear mas os mais próximos sabem.
O motivo da ressaca era especial, não havia sido apenas uma típica saída de sábado à noite. Havia voltado do seu baile de formatura. Seis anos depois (era pra terem sido cinco mas sabe Cálculo II, né?) o fim estava sacramentado. Difícil atinar com o fato.

A maioria de seus amigos voltaria pra suas respectivas cidades, ele também, muito provavelmente. Todos agora não mais acadêmicos/estagiários e sim com uma placa de 'DESEMPREGADO' pendurada no pescoço. Mundo cruel. Claro que não pensara nisso durante a festa apesar de ser um pensamento recorrente nos últimos tempos, todas as vezes sendo intimado a calar-se por seus amigos.
Não. durante a festa realmente não precisou pensar naquilo. Foram tantas emoções (crédito a Roberto Carlos), toda a família reunida, os amigos, alguns vindos de muito longe, o discurso que ele planejara há tanto tempo e que tinha saído fantástico (em sua nada parcial opinião) e por último mas nem um pouco menos importante: o champagne (na verdade o espumante, já que champagne é só o vinho espumante vindo do vale de... hum... vamos falar champagne mesmo, bem mais fácil).
Porém, agora era a hora das escolhas. Depois de quatro anos de idas-e-vindas havia retornado às graças da que dormia ao seu lado. Só que pequeno detalhe, ela não tinha se formado ainda. E só se formaria no final do ano seguinte. Sem mencionar o fato dela também não ser local, nem do mesmo lugar que ele.
Ainda tinha que pensar também na opressão tácita que seria voltar a morar com a família depois de seis longos anos.
Ia ser difícil passar para a rotina da vida brasileira média. Oito às cinco, happy-hour na sexta e praia no feriado. Jura? Tudo isso mesmo? Não apetecia nem um pouco.
Incrível como ele tinha tido tanto tempo pra pensar nestas coisas, pensado nelas e mesmo assim não havia chegado a nenhuma conclusão. Encruzilhada. Momento chave da vida.

Mas obviamente não seria às seis e meia da manhã, mamado que ele resolveria algo. Ainda havia tempo, ah o tão elusivo tempo. Ou pelo menos assim ele pensava.

Virou-se para o rosto angelical deitado, de olhos fechados a seu lado. Esboçou um mínimo sorriso, deu um paternal beijo na testa, virou-se e dormiu.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sobrou Pra Mim

Putz, sobrou pra mim. Foi o que ele pensou. Estava com aquela sensação chata de quem nada de errado havia feito porém sentia que indubitavelmente seria apontado como o errado ou algo similar. Meio que quando todos na sala de aula estão a conversar mas você pressente que na hora da bronca, o escolhido pelo professor será você. Ou quando o time inteiro não joga nada só que você escolheu bem aquele jogo pra furar a bola que interceptaria o contra-ataque mortal.
Mas o que levava nosso protagonista a ficar assim? Vejamos, com as palavras do próprio.

É, legal isso, pensei que só eu sabia desse negócio e agora tá todo mundo sabendo. O pior é que ELA vai achar que fui eu, afinal teoricamente só eu estava presente... mas será mesmo? Talvez alguém tenha visto, ou ela tenha contado pra mais alguém...
O fato é que ela deve estar me culpando mesmo, afinal me trata como lixo depois que a informação correu, independentemente dela ter contado a outra pessoa, quem ficou marcado como falastrão fui eu.

Pensa, pensa. Que farei? Posso tentar malandramente desmentir aos poucos... não, muito óbvio, além de ser praticamente ratificar o ato desmenti-lo. Posso assumir a culpa, alegando que contei pra alguém em sigilo e esse outro alguém que soltou a informação. Boa, agora eu ia arrastar mais um para o buraco, seria muito legal da minha parte. Ou poderia assumir a culpa, mesmo sem ter feito nada. Opa, essa parece até agora a mais razoável em termos conseqüenciais, mesmo sendo a mais ridícula em termos de verdade. Posso negar até a morte veementemente com a espada da verdade ao meu lado. Há, seria estúpido isso mesmo sendo o mais certo.

Ou posso não fazer nada. É, parece razoável. Mesmo que minha vontade irrefreável de mostrar a pra todo mundo que não sou eu o filho-da-mãe. Aliás, que mania idiota essa de querer se justificar, né? Ninguém paga minhas contas, que aliás não estão nem um pouco baratas, maldito carnaval.

Pronto, é isso mesmo, não farei nada.

Mas pensando bem...